Cinema
A visão de Angelina Jolie sobre o horror no Camboja
A visão de Angelina Jolie sobre o horror no Camboja
Da Redação | 28 de abril de 2018 - 00:48
Baseado em uma história verídica, o quinto longa de Angelina Jolie como diretora mostra os horrores do Khmer Vermelho, regime comunista que controlou o Camboja entre 1975 e 1979. A história de ‘First They Killed my Father’ (‘Primeiro Eles Mataram meu Pai’) é contada pelo olhar de uma garotinha, Loung Ung (Sareum Srey Moch) e é baseada no livro de mesmo nome escrito pela Loung real. O roteiro desta produção da Netflix é da própria diretora em conjunto com a autora do livro.
Filha de um oficial do governo do Camboja, a menina teve uma vida privilegiada no início de sua infância até que o cenário político mudou radicalmente. Conforme o próprio filme divulga, “por meio de execução, inanição e trabalho forçado, o Khmer Vermelho sistematicamente matou quase um quarto da população do país”. Fala-se em cerca de dois milhões de pessoas.
A diretora é coerente por não economizar nas cenas de atrocidades desse regime que buscou acabar com a organização urbana, implantar uma forma coletiva de produção rural e exterminar intelectuais e artistas. Um dos recursos estilísticos mais usados por Jolie é a inserção de vários planos aéreos, algo que amplia a visão do espectador sobre o terror.
Dentre os acertos narrativos está a cena em que a protagonista sente-se obrigada a correr para proteger-se do ataque de aviões e, ao mesmo tempo, precisa andar com extrema lentidão e cuidado para não ser arrebentada por uma mina terrestre, algo que está acontecendo ao seu redor. Difícil não ser sensibilizado por essa contradição dramática.
Por mais que mostre o horror do Khmer Vermelho, o filme de Angelina Jolie dá algumas pinceladas sobre o empurrãozinho dos Estados Unidos para a gestação desse monstro. Eles bombardearam o Camboja, um país neutro na Guerra do Vietnã, com o objetivo de atingirem soldados do Vietnã alojados na fronteira. Com isso, os Estados Unidos colaboraram para que os extremistas comunistas do Camboja ganhassem a simpatia dos cambojanos. A fórmula usada pelo Khmer Vermelho para “proteger o país”, no entanto, hoje é bem conhecida. Nesse sentido, ao mesmo tempo em que dirige quase que integralmente a atenção para o infeliz sistema de organização no Camboja nos anos 1970, o filme também critica o entorno, os motivos que levam regimes totalitários a se instalarem.