Paulo Coelho
Quatro histórias sufi (18/08)
Quatro histórias sufi (18/08)
Da Redação | 18 de agosto de 2018 - 00:29
A MULHER PERFEITA
Nasrudin conversava com um amigo.
- Então, mullah, nunca pensaste em casamento?
- Já pensei - respondeu Nasrudin. - Em minha juventude, resolvi conhecer a mulher perfeita. Atravessei o deserto, cheguei em Damasco, e conheci uma mulher espiritualizada e linda; mas ela não sabia nada das coisas do mundo.
- Continuei a viagem, e fui a Isfahan; lá encontrei uma mulher que conhecia o reino da matéria e do espírito, mas não era bonita. Então resolvi ir até o Cairo, onde jantei na casa de uma moça bonita, religiosa, e conhecedora da realidade material.
- E por que não casaste com ela?
- Ah, meu companheiro! Infelizmente ela também procurava um homem perfeito.
O PATO E A GATA
- Como o senhor entrou na vida espiritual? - perguntou um dos discípulos ao mestre sufi Shams Tabrizi.
- Minha mãe dizia que eu não era bastante louco para ser internado num hospício, nem bastante santo para entrar num mosteiro - respondeu Tabrizi. - Então resolvi dedicar-me ao sofismo, onde aprendemos através da meditação livre.
- E como explicou isso a sua mãe?
- Com a seguinte fábula: alguém colocou um patinho para que uma gata tomasse conta. Ele seguia sua mãe adotiva por toda parte – até que, um dia, os dois foram parar diante de um lago. Imediatamente, o patinho entrou na água, enquanto a gata gritava da margem: “Saia daí! Você vai morrer afogado!”
E o patinho respondeu: “não, mamãe, descobri o que me faz bem, e sei que estou no meu ambiente. Vou continuar aqui, mesmo que a senhora não saiba o que significa um lago”.
O PEIXE QUE SALVOU UMA VIDA
Nasrudin passa diante de uma gruta, vê um yogue meditando, e pergunta o que ele estava buscando.
- Contemplo os animais, e aprendi deles muitas lições que podem transformar a vida de um homem - diz o yogue.
- Pois um peixe já salvou minha vida - responde Nasrudin. – Se você me ensinar tudo o que sabe, eu lhe conto como foi.
O yogue espanta-se: só um santo pode ter a vida salva por um peixe. E resolve ensinar tudo que sabe.
Quando termina, diz a Nasrudin:
- Agora que ensinei tudo, ficaria orgulhoso em saber como um peixe salvou sua vida.
- É simples - responde Nasrudin. - Eu estava quase morrendo de fome quando o pesquei, e graças a ele pude sobreviver três dias.
A REFLEXÃO SUFI
Abu Muhammad al-Jurayry costumava dizer:
"A religião possui dez tesouros, que nos enriquecem. São cinco interiores, e cinco exteriores; todos aqueles que seguem o caminho espiritual devem estar conscientes disto.”
"Eis os tesouros interiores: capacidade de ser verdadeiro, despreocupação com os nossos bens, humildade na aparência, equilíbrio para evitar dificuldades com os outros, e força para reagir.”
"Eis os tesouros exteriores: descobrir um amor supremo, despertar o desejo de estar junto a este amor, ter inteligência para ver as próprias faltas, estar consciente de tudo que acontece na vida, e ser grato pelas bênçãos recebidas".