Editorial
É preciso cobrar
Se uma cena tão impactante quanto essa foi registrada em vídeo, quantas outras igualmente ou mais fortes, não acontecem todos os dias?
Da Redação | 22 de janeiro de 2019 - 01:54
A divulgação de um vídeo em que um homem aparece espancando
uma mulher num conjunto habitacional de Ponta Grossa causa revolta e
indignação. Foram centenas de comentários nas redes sociais condenando o autor
do crime e defendendo leis mais rígidas para o combate à violência doméstica. As
cenas da vítima, no chão, sendo atingida por socos e chutes, são chocantes e absolutamente
injustificáveis.
É difícil não se sentir enojado com as cenas impressionantes
de violência gratuita, crua e real. E por mais cruel que possa parecer, é
exatamente assim que tem que ser. Infelizmente, o choque faz o assunto ser
discutido, mostra a realidade vivida por milhares de mulheres por todo o país.
A lógica é simples: se uma cena tão impactante quanto essa foi registrada em
vídeo, quantas outras igualmente ou mais fortes, não acontecem todos os dias?
A violência doméstica não tem cor de pele e nem classe
social. Destrói famílias e influencia crianças que, acostumadas a conviver neste
cenário, levam a rotina de violência para suas vidas adultas – é o círculo
vicioso do ódio e da intolerância. A legislação tenta ajuda e a Lei Maria da
Penha trouxe progressos, mas ainda é preciso avançar ainda mais. Diferente do
que acontecia quando a lei entrou em vigor, agora não é mais preciso que a
vítima faça a representação contra o autor. Se a autoridade policial
identificar a situação de flagrante, o crime está configurado, independente da
vontade da vítima.
Sim, fala-se de ‘vontade’ porque são inúmeros casos em que
as mulheres dependem financeira ou emocionalmente de seus agressores, ou ainda,
têm medo de denunciá-los à polícia por temerem à própria vida. Por isso, todo esforço
é importante para combater esse tipo de crime. Além de polícia, Justiça e
Ministério Público, a população tem papel fundamental em denunciar – ‘meter a
colher’ não é só necessário, é uma obrigação moral.