Debates
Um ano que se perpetuará
Da Redação | 01 de novembro de 2018 - 01:19
Por Flavio Crepaldi
Ao encerrar o Ano do Laicato no Brasil, a Igreja Católica
reafirma o valor e a especificidade dos leigos. Entre as inúmeras contribuições
do Concílio Vaticano II para o aggiornamento (atualização) da Igreja Católica,
estão a reflexão e o aprofundamento do papel do leigo dentro do corpo eclesial.
Tamanha novidade, somada a tantas outras propagadas pelos
documentos oficiais, causou, ao mesmo tempo, uma imensa alegria e perplexidade.
Por um lado, soterrou-se a ideia de que existem cristãos de “segunda classe”,
aqueles que estão na Igreja somente para receber os benefícios adquiridos e
distribuídos por outros, como meros espectadores. Por outro, como entender esse
papel próprio do leigo dentro do corpo místico de Cristo, que é a Igreja?
Quarenta anos depois, o Documento de Aparecida, produzido
pelos bispos de toda América Latina e Caribe, veio sintetizar uma discussão tão
complexa com o binômio: discípulos missionários. Todos os cristãos são chamados
a ser discípulos, a aprender, a se formar e deixar-se moldar pela Igreja. Mas,
também são chamados a ser missionários, a edificar e propagar essa fé viva na
sociedade a que pertencem, sendo protagonistas de uma mudança.
O Ano do Laicato veio como um selo a confirmar e promover, o
papel próprio, específico e insubstituível dos leigos na vida eclesial e
social. São, em primeiro lugar, os leigos que permitem a penetração da vivência
da fé nas realidades sociais. Chamados a exercer funções no mundo, a estar
presentes onde os sacerdotes e consagrados não podem atuar, cabe aos leigos
assumirem o papel de fermento vivo para gerar uma sociedade construída sobre
valores verdadeiramente evangélicos.
Sem a presença dos leigos, toda a contribuição da Igreja
para promover realidades sociais, políticas e econômicas mais justas, e que
preservem toda a dignidade humana, passam a ser somente ideias e ideais vindos
“de fora”, sem contato efetivo e maduro com a estrutura do mundo.
Os leigos, portanto, não somente pertencem à Igreja, mas são
Igreja atuante no mundo. Não devem ser apenas contabilizados como parte da
sociedade, mas assumem o múnus profético, régio e sacerdotal de Cristo no meio
do seu povo, em comunhão com os membros das sagradas ordens e religiosos.
Junto ao sacrifício oferecido no altar, oferecem suas lutas,
obras e preces cotidianas. Oferecem sua vida conjugal, familiar e todas as suas
relações de trabalho, para edificar a Igreja no mundo e em si mesmos.
Com seu testemunho de vida, tornam-se verdadeiros sinais de
que existe a real possibilidade de construção de um mundo melhor para todos.
Sobretudo, possuem a penetração do sal, o poder de crescimento do fermento e a
capacidade de revelação da luz em situações e condições por vezes tão amargas,
desprovidas de vida e envolvidas nas trevas da ignorância e do erro.
Um ano de valorização e reflexão sobre o papel dos leigos na
Igreja e na sociedade do Brasil serviu, não como ponto de chegada, mas como
novo começo, maior adesão à hierarquia e, sobretudo, maior harmonia entre os
diversos membros desse corpo instituído por Deus para trazer, não só vida nova,
mas vida em abundância por onde quer que atue e esteja presente.
Flávio Crepaldi é colaborador da Fundação João Paulo II e
colunista do Canal Formação, no Portal