Debates
Eleições: Faltou falar do papel do Brasil no mundo
Da Redação | 11 de outubro de 2018 - 02:40
Por Coriolano Xavier
Chegamos ao segundo turno da eleição presidencial e
praticamente não se discutiu, durante toda a campanha eleitoral, qual o papel
do Brasil no mundo. No entanto, somos hegemônicos no agronegócio mundial, um
dos principais produtores e exportadores de alimentos, com a perspectiva de
mais do que dobrar as exportações nessa área, nos próximos 10 anos, segundo o
USDA. Nosso principal parceiro comercial é a China, potência em ascensão na
geopolítica internacional. Também estamos entre as 10 maiores economias
mundiais, com um mercado de 208 milhões de pessoas e influência estratégica na
América Latina. De quebra, o país é uma potência ambiental, o que é de grande relevância
nesses tempos de mudanças climáticas e mobilização mundial para colocar um
freio.
Essa ausência de debate sobre a inserção brasileira no
mundo, entre os principais postulantes à presidência, guarda alguma relação com
a cultura sedimentada pelo isolacionismo histórico da economia brasileira. Hoje
o mercado internacional pauta-se pelo multilateralismo, com o desenvolvimento
contínuo de acordos bilaterais ou multilaterais de comércio em todos os
continentes, mas o engajamento brasileiro nessa tendência ainda se mostra
tímido. A própria agenda econômica de quase todos os candidatos, meio que
passava ao largo dessa questão. Contudo, agora que o palanque do segundo turno
está definido, é chegado o momento de levar essa discussão aos dois postulantes
ao governo federal, e também às demais forças políticas que desenharão a agenda
político-econômica do país, nos próximos anos.
O agronegócio é uma exceção no cenário isolacionista do
país, pois o setor já exporta para cerca de 140 países. Mas mesmo assim pode ampliar
esse dinamismo com novos mercados ou maior penetração em mercados atuais, até
porque tendem a vir de além fronteira importantes alavancagens do setor, na
próxima década. Nessa perspectiva, dois pontos parecem surgir como estratégicos
para o agro. Primeiro, uma efetiva política para promover maior abertura
comercial do país, sob a batuta do multilateralismo e, inclusive, aproveitando
o forte potencial competitivo do nosso agro, seja em produtos ou mesmo em
serviços tecnológicos para a faixa tropical do planeta. Sempre lembrando que
abertura comercial é sinônimo de vender, comprar e aprender, estendendo seus
benefícios de competitividade para toda a economia, do campo à indústria e aos
serviços.
O outro pilar essencial para somar no fortalecimento do país
no mercado internacional é a modernização e o compliance dos processos
fiscalizadores da defesa sanitária e de outras eventuais atividades de impacto
sobre a segurança dos alimentos aqui produzidos. Isso tem a ver com o conceito
dos produtos brasileiros no exterior, portanto é fator para abrir oportunidades
de venda, além de combustível para estratégias de agregação de valor em nossas
ofertas e para aumento de prestígio da marca Brasil. Para um setor com peso de
um quarto do PIB e presença internacional ascendente, essa questão bem que
poderia merecer atenção de prioridade nacional.