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A perfeita lei da liberdade
Da Redação | 05 de setembro de 2018 - 02:43
Por Padre Antonio Xavier Batista
A Lei Perfeita da Liberdade é a lei interior, não exigida
por um preceito, mas pelo próprio coração do homem. Esta é a lei do amor
deixada por Nosso Senhor Jesus Cristo. A carta de São Tiago é composta por
muitas exortações sobre a fé que, quando acolhida e praticada, produz a santidade,
envolvendo aqueles que estão em torno. O texto (Tg 1,19-27) começa com uma
tríplice exortação: prontidão no escutar, lentidão no falar e frear a ira.
A prontidão em escutar a palavra se refere ao relacionamento
com Deus. Por meio da escuta se conhece a Sua vontade, que pode ser manifestada
a qualquer momento. Por isso, exige-se prontidão, disponibilidade interior em
escutar, dedicação à palavra para poder conhecê-la bem.
A lentidão, quanto ao falar e ao irar-se, se refere ao trato
comunitário, consequência da escuta da palavra. Somos conduzidos a não apenas
ouvir, mas realizar a palavra, ou seja, cumprir a justiça de Deus, aquilo que é
de Sua vontade.
O falar demais ou muito rápido antes de escutar a voz
interior e a ira impedem que façamos aquilo que agrada a Deus, que é justo e
santo aos olhos d’Ele e, por isso, impedem a palavra de germinar e produzir
frutos no coração.
Esta exortação vem ao encontro de muitas realidades do nosso
tempo: as pessoas sentem mais necessidade de falar do que de ouvir e, por isso,
mesmo nas famílias, o diálogo fica prejudicado. Parece que ouvir a Deus ou ao
outro é sentido como perda de tempo, como se o outro não fosse capaz de
acrescentar nada em nossa vida.
A acolhida da palavra é apenas o primeiro passo. Depois é
preciso colocá-la em prática (Tg 1,22). Quem apenas escuta passivamente é
comparado a quem contempla o próprio rosto e depois se esquece do que viu
porque fez apenas a experiência consigo mesmo, não a sentiu como palavra de
Deus.
A simples escuta e aceitação não produzem santidade. É como
alguém que gosta de ouvir música instrumental, apenas dedicar-se a ouvir não o
torna capaz de retirar aqueles belos sons do instrumento ao tê-lo nas mãos. O
amor, à medida que é praticado, vai dando à pessoa a verdadeira capacidade de
amar e produzir frutos.
O convite é a debruçar-se sobre a palavra para nela
descobrir a Lei Perfeita da Liberdade e, praticando-a, ser bem-aventurado em
tudo que faz. Um imperativo que surge em nosso coração e inspira nossa forma de
agir.
Por ser aquilo de mais espontâneo no ser humano, o amor não
pode ser entendido como uma regra à qual alguém possa ser submetido. É um dom
de Deus que provoca o homem porque reside em seu coração e em sua consciência,
expressão da Sua vontade presente no Evangelho. Observar essa lei torna o homem
livre do pecado, simbolizado pela ira, e do exagerado apego a si mesmo,
simbolizado pelo falar apressadamente.
A Lei Perfeita da Liberdade, capaz de gerar a verdadeira felicidade, é o amor de Deus implantado no coração do homem. Porque onde está o Espírito do Senhor aí está a liberdade (2Cor 3,17) e aos poucos vamos sendo transfigurados naquele que contemplamos (2Cor 3,18). Tudo parte do ouvir com docilidade acolhendo a palavra, seguido pelo praticar.
O perfeito cumprimento da vontade de Deus se dá no exercício
das obras de misericórdia que a palavra nos inspira a realizar. Tudo é feito
com liberdade para não ser cumprimento de regra, já que é o amor de Deus que
nos impele (2Cor 2,15). Assim, nosso coração vai se tornando manso e humilde,
semelhante ao Sagrado Coração de Jesus (Mt 11,29).
*Padre Antônio Xavier Batista é membro da Comunidade Canção
Nova e Assessor da Comissão Episcopal Pastoral para Comunicação da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O sacerdote é Mestre em Ciências Bíblicas
e Arqueologia.