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Você investiria em um país com alta criminalidade?
Da Redação | 08 de agosto de 2018 - 01:25
Por Marco Antônio Barbosa
Cada brasileiro paga anualmente R$1,8 mil em média para
sustentar a luta contra a violência. Segundo a Confederação Nacional da
Indústria (CNI) são 365 bilhões ao ano no total, que equivale a 5,5% do PIB do
país. Este valor é mais alto do que o arrecadado com os setores de construção
(5,2%) ou agronegócio (5,3%).
Os dados da CNI também apontam que o setor industrial gasta
mais em segurança do que em ciência e desenvolvimento. No ano passado, foram
gastos cerca de R$ 30 bilhões em segurança, enquanto, em pesquisa, foram gastos
R$ 12,5 bilhões, de acordo com os últimos dados disponíveis do IBGE.
A pergunta que fica é: você investiria o seu dinheiro em um
país que gasta tudo isso com segurança?
Lembrando que investir não quer dizer sanar o problema e,
muito menos, gastar da maneira correta. O Atlas da Violência de 2018 -
divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Fórum
Brasileiro de Segurança Pública – mostra exatamente isso. Mesmo com estes
gastos, seguimos batendo recordes de criminalidade. Em 2016, foram 62.517
homicídios. São sete homicídios por hora no país. O Índice Nacional de
Homicídios instituído pelo Portal G1, que acompanha mensalmente as ocorrências
de crimes violentos, mostra que 21.305 pessoas foram mortas nos cinco primeiros
meses de 2018.
Faço outra pergunta: você traria sua família para trabalhar
neste país, sabendo dessas estatísticas?
A segurança afeta diretamente a crise. Se a violência traz
gastos, as empresas desistem de investir e perdemos vagas de empregos. A consequência
disso é que o crime aparece novamente como a única saída para quem não tem como
se sustentar. O ciclo é vicioso e cada vez mais perigoso.
É preciso manter o investimento sim, mas de forma ordenada.
Um planejamento claro e unificado para todo o Brasil, identificando as
principais causas da criminalidade para atacá-las de forma assertiva.
Fortalecer as políticas públicas para as famílias de baixa renda como educação,
moradia, transporte, saúde também impactam diretamente no combate à
criminalidade. Prover dignidade as pessoas e alternativas de crescimento são os
grandes vácuos que o Estado deixa e onde se enraíza o crime organizado.
Mas como isso afeta diretamente as indústrias que querem
investir aqui?
Os custos com segurança, somados à logística e impostos,
encarecem a produção. Diminuindo este valor, aumenta a produtividade e diminui
o custo que chega para a população que, com isso, consome mais. As empresas,
então, abrem mais empregos e o ciclo vira positivo.
Se você fosse um empresário estrangeiro, investiria em um
país com baixa criminalidade? A resposta
com certeza seria, sim. Este seria o cenário perfeito. Esta seria a pergunta
que gostaria de começar um artigo falando sobre o Brasil.
Marco Antônio Barbosa é especialista em segurança e
diretor da CAME do Brasil. Possui mestrado em administração de empresas, MBA em
finanças e diversas pós-graduações nas áreas de marketing e negócios.