Debates
Sobre o Festival de Música de Ponta Grossa
Da Redação | 26 de julho de 2018 - 01:18
Por Lucas de Carvalho Morais
Na noite do último dia 20, sexta-feira, a Orquestra
Sinfônica Cidade de Ponta Grossa, sob a regência do seu diretor, o maestro
Rafael Rauski, regalou-nos com excelente execução da Marcha Eslava e da 5º
Sinfonia de Piotr Ilitch Tchaikovsky, compositor russo do século XIX. Tchaikovsky
retorna com classe, depois do quase grotesco concerto da Orquestra Filarmônica
da Unicesumar, que em 2017 executou a Valsa das Flores no Cine Teatro Ópera,
quase executando junto o seu compositor, que já havia morrido em 1893.
O evento dessa sexta abriu o 10º Festival de Música de Ponta
Grossa, que proporcionará diversas apresentações até o dia 29 de julho. Além de
concertos e recitais que nos conduzirão através do erudito e do popular, o
festival contará com debates, masterclasses, oficinas e exibição de filmes. Não
é todo dia que ao cidadão ponta-grossense se abre a possibilidade de assistir e
participar de tão rica programação cultural.
Os músicos da nossa orquestra receberam merecidamente mais
aplausos que esperavam nessa sexta. É que, executando uma sinfonia composta de
quatro movimentos, a orquestra fazia uma pequena pausa ao final de cada um
deles, momento em que o povo – que lotou o Ópera – acreditava que a música
chegara ao fim e punha-se a aplaudir entusiasticamente. Na primeira dessas
situações, alguém disse um “xiiiu”, ao que se seguiu a exclamação “respeito!”,
para que a orquestra não fosse interrompida no meio da música. Daí formaram-se
duas facções: a dos que aplaudiam e a dos que não. Merecidos aplausos no
momento errado. Alguém pode objetar que a maioria dos ouvintes não conhecia a
5º Sinfonia de Tchaikovsky e por isso não saberia como ela termina. Só que uma
sinfonia revela o seu final, não raro maestoso, bombástico, impetuoso. Ao
leitor se lhe ensine: não aplaudimos antes que a música chegue ao fim.
Outro fenômeno foram os bebês presentes, assunto assaz
polêmico hoje em dia. Antes de iniciar a execução percebi a esparsa emissão de
balbucios, gemidos, gritinhos e choros. Virei-me e deparei as rechonchudas
caras de diversos bebês e fiz a mais apocalíptica projeção: seria um chororô
geral durante a apresentação. Felizmente os tenros apreciadores de música
erudita ficaram muito comportadinhos, o que prova, na minha opinião, a
qualidade do concerto.
Estava tudo perfeito, um repertório ótimo tocado por ótimos
músicos e apreciado por um respeitável público. Havia, contudo, um jovem senhor
ao meu lado que, começando com discreto tamborilar de dedos, foi progredindo
durante toda a Marcha Eslava, acrescentando bufadas rítmicas, assobios, gestos
manuais impetuosos, quando, por fim, começou a bater os pés no chão, fazendo
balançar as poltronas contíguas. Tamanho era o seu desejo de convencer a si
próprio do seu conhecimento das músicas apresentadas. Talvez na sua cabeça
fosse ele, e não o maestro Rafael Rauski, o verdadeiro e secreto regente do
concerto. Ora, quem gosta de música tem a alma invadida por tamanho entusiasmo
que até o seu corpo parece cooptado pelo ritmo e pela melodia. Não é à toa que
existe a dança. Mas a orquestra, que certamente ensaiara exaustivamente, nos
ofereceu uma apresentação tão bela que não seria exagero pedir à plateia que
suspendesse mesmo a respiração para que ruído algum desviasse a atenção dos
músicos ou ofuscasse o som.
Reitero que serão diversas atividades voltadas à música, que agradarão diversos gostos, e convido o leitor a prestigiar a produção e atuação artística de nossa cidade. A programação dos eventos podem ser encontradas na página “Festival de Música de Ponta Grossa” no Facebook.
Lucas de Carvalho Morais é ponta-grossense e colaborador do JM