Debates
Educação, vestibulares e sociedade
Da Redação | 18 de julho de 2018 - 01:44
Por Matheus
Mendanha Cruz
Em uma matéria compartilhada
em rede social sobre um aulão realizado junto a um dos cursinhos populares da
cidade de Ponta Grossa alguém comentou, com certo orgulho, “ser professor é
isso né?!”, referindo-se a estar dançando num palco. Dentro da própria reportagem
o coordenador do cursinho explicou que essas são estratégias para que os alunos
(não educandos) possam aprender de forma melhor para fazer a prova.
Desculpe
discordar, mas não, ser professor não é isso. Isso é ser artista, é assim que
uma das grandes instituições pré-vestibulares propagandeiam os seus serviços,
já que anuncia que “estrelam os melhores professores da cidade”. Sei que o
pré-vestibular tem uma função específica que é ajudar aqueles que procuram esse
serviço passar nas provas seletivas para adentrar à universidade. Entretanto,
não podemos chamar isso de educação e muito menos afirmar que é preciso
formação específica para estrelar esse show.
Se nossas
escolas, aqui falo dos sujeitos que formam a comunidade escolar, estivessem
preocupadas e tivessem estruturas para poder construir juntos aos jovens uma
educação de qualidade em que se valorize a subjetividade e a leitura de mundo,
como nos ensinou Paulo Freire, não precisaríamos de macetes e técnicas decorebas.
E é isso que chega a ser cômico se não fosse trágico, vivemos no século XXI
onde praticamente não há defensores de métodos mnemônicos para educação,
entretanto é esse o caminho requerido para adentrar na vida acadêmica.
A universidade
brasileira tem sérios problemas de se enxergar dentro da realidade, está cada
dia mais longe dos problemas e anseios da vida cotidiana, não parecendo se
importar com a formação humanística que nos possibilitaria um desenvolvimento
de uma sociedade mais justa, menos desigual, menos corrupta, com mais empatia.
Entendo os
colegas que assumem o papel de trabalhar em cursos pré-vestibulares, afinal a
carreira docente tem sofrido sérios ataques constantes sem contar a falta de
estrutura na maior parte das escolas, principalmente públicas. Entretanto não
consigo crer que isso seja educar. É por essa estrutura de ingresso fútil que
temos tantos jovens que ingressam em cursos disputadíssimos, mas que são
corruptos, violentos (como há alguns anos tivemos os chamados pitboys no Rio de
Janeiro), racistas (semana passada recebi a foto de rapaz nos Jogos Jurídicos
Paranaenses com uma fantasia de Aladim onde o macaco do personagem era
representado por uma boneca negra). Enquanto continuarmos cobrando decoreba e
não uma FORMAÇÃO dos jovens que adentram à Universidade continuaremos com problemas
tais quais temos hoje na nossa sociedade. Afinal a cobrança feita no vestibular
é um dos indicadores do que é valorizado de fato na educação básica, ainda é a
antiga decoreba.
Matheus Mendanha Cruz é professor de História