Debates
Eleição na Universidade
Da Redação | 16 de maio de 2018 - 03:53
Momento de eleição, momento de repensar a missão da
Universidade pública. Dizer que seja ensino, pesquisa e extensão é estacionar
na mesmice burocrática de quem não tem verdadeira compreensão do alcance do
papel das instituições de ensino superior públicas. Na Universidade são
formados professores, técnicos, os profissionais que dão continuidade à
formação e ao aperfeiçoamento dos futuros profissionais. Os cidadãos, os homens
(e, felizmente cada vez mais, as mulheres) públicos, os futuros administradores
e tomadores de decisões que afetam toda a sociedade.
Historicamente, a Universidade tem sido a instituição onde
se produz e onde se transmite todo o conhecimento essencial para o progresso da
sociedade, pelo ponto de vista de quem a financia. Progresso não só
tecnológico, mas sobretudo social, filosófico, moral, cultural... A
Universidade pública tem, então, em tese, de priorizar o interesse de quem a
financia: o público, o coletivo, visto que todos contribuem para seu
custeio.
As pressões para a privatização da Universidade são fortes:
toda a estrutura construída com o esforço público passaria a interesses
privados. Além do imenso negócio da formação superior cair nas mãos de quem
prioriza o lucro, esta formação poderia então ser direcionada para os
interesses dos negociantes.
Nos dias 15 e 17 de maio realiza-se a eleição para reitor e
vice-reitor da UEPG. A UEPG é importante? Lamentável que ainda muitos neguem ou
não enxerguem essa importância. Por sua antiguidade, tradição, alcance
regional, multiplicidade de cursos e atividades, infraestrutura, a UEPG tem um
potencial inquestionável. Acentuado pela singularidade da região e da cidade de
Ponta Grossa. E qual a importância de sua direção, personificada antes de tudo
pelo reitor e vice-reitor? Capital. São eles que definem a forma de preenchimento
dos muitos cargos de confiança que vão administrar e determinar os rumos da instituição.
E atualmente quais deveriam ser estes rumos? Uma espiada na
situação mundial e nacional pode nos dar algumas pistas. Vivemos uma época de
retrocesso. Direitos humanos, conquistas trabalhistas, probidade, liberdade de
expressão, inclusão social, respeito às minorias, igualdade de direitos, paz,
soberania de povos e nações têm sido ameaçados e violentados em todo o mundo. E
não é diferente no Brasil, onde os três poderes encontram-se em grave crise. Profundas
distorções permitem que a insegurança e o medo intencionalmente disseminados
sejam transformados em ressentimentos e ódios que só visam desarticular as forças
sociais e facilitar a perpetuação de estruturas de dominação herdadas de
séculos de escravatura. Insidiosa manipulação substitui o sentir e o refletir
por reflexos condicionados, controla a opinião e constrói consensos avessos ao
interesse coletivo.
A Universidade antes de mais nada tem de manter-se pública,
e gratuita. Sua direção deve ter compromisso com o interesse da sociedade como
um todo, não de corporações, ideologias e muito menos associações e sociedades
secretas. E a sociedade é diversidade, é conflito. A Universidade tem de buscar
condições de dialogar, de buscar e reconhecer consensos que signifiquem
prosperidade da maioria. Para tanto é preciso que seja capaz de discernir, de
analisar, de criticar, de autocriticar-se.
Que a comunidade universitária saiba escolher seus futuros
dirigentes. Que estes tenham grandeza moral à altura do papel da instituição,
que deve zelar pela capacidade de pensar e de fazer as escolhas mais adequadas
para o aperfeiçoamento de nossa conflituosa sociedade.
Mário Sérgio de Melo é Professor do Departamento de Geociências da UEPG