Debates
Uma coisa leva a outra: os impactos climáticos
Da Redação | 23 de fevereiro de 2018 - 01:15
Por Ágide Meneguette
O ano começou com excesso de chuvas em todo o Paraná,
superando a média histórica em muitas regiões do Estado. O clima é uma variável
determinante para a agropecuária. As consequências têm efeito em cadeia.
O primeiro reflexo foi o comprometimento da produtividade na
fase de desenvolvimento da planta e que resultou no atrasado na colheita de
grãos.
Alguns estágios são decisivos para o desenvolvimento da soja
que não atingiu o potencial esperado e a estimativa para a safra de verão
2017/18 foi revisada para baixo. A umidade excessiva também refletiu em aumento
da incidência fungos, doenças e apodrecimento das vagens.
No embalo dos problemas ocorridos com a colheita de verão, a
janela de plantio do milho safrinha ficou apertada levando muitos produtores a
desistirem ou arriscarem a semear fora do calendário.
A situação exige sensibilidade do governo federal em relação
a algumas medidas como a revisão do calendário de Zoneamento Agrícola de Risco
Climático (ZARC) para alguns municípios. A demanda da FAEP foi atendida pelo Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a data limite aumentada em 20
dias para 170 cidades produtoras do cereal. Mesmo assim, são necessários novos
prazos, pois o excesso de chuva não permite o avanço das colheitadeiras sobre a
soja que está no campo.
Aos que decidiram apostar no plantio do milho safrinha, o
cenário quebrou totalmente o planejamento da safra. Os preços do cereal estão
menos atrativos. A busca por semente precoce aumentou na tentativa de redução
do ciclo, mas isto aumenta o custo de produção. Outro problema é que ninguém
estava preparado com estoque de sementes suficientes para atender a essa
demanda. Não há o tipo de semente que os produtores gostariam no mercado. E,
mesmo que houvesse, pela própria tecnologia necessária, o custo é maior.
Ainda, há produtores que decidiram apostar em variedades
mais baratas, sem potencial genético de ponta. O resultado de todo esse
histórico é uma produtividade baixa e com qualidade comprometida, atingindo
diretamente o bolso do produtor. Todo mundo sabe que o agricultor utiliza o
crédito agrícola para produzir e o endividamento com o banco vem com chuva ou
sem ela.
Nesse contexto, temos dois perfis de produtores. Um que não
fez o seguro e, inevitavelmente, arcará com as perdas e prejuízos. O segundo é
o produtor que fez o seguro rural, mas dependerá também da capacidade de resposta
da seguradora ao sinistro. Isso inclui agilidade na perícia para liberação da
área para outros manejos, o que exige, além de estrutura, planejamento.
O cenário é de incertezas. É aí que entra o papel do poder
público em adotar medidas que ajudem o produtor rural a ter condições de se
recuperar rapidamente para que as consequências não atinjam futuras safras e a
normalidade seja estabelecida o quanto antes, administrando melhor as perdas.
Até o meio do ano temos estoque de milho para atender a
demanda. Depois disso, o mercado começará a sofrer os reflexos das chuvas de
janeiro com efeitos na suinocultura e na avicultura. E, poderá ser percebido na
gôndola do supermercado.
Se olharmos o cenário de forma mais ampla veremos um câmbio
mais baixo para exportações. Além das consequências da chuva na questão de
infraestrutura e logística com dificuldade de beneficiamento pela umidade, as estradas
vicinais que foram afetadas pelo alagamento dificultam o escoamento de
produção.
Precisamos de ações que minimizem esses riscos. Como
instituição que atua em defesa do produtor rural estamos fazendo a nossa parte.
Até mesmo na cobrança do agricultor em investir em ações de conservação de solo
e água, para que o impacto do alagamento seja minimizado, orientação, auxílio e
parceria no crédito e no seguro agrícola e na eficiência da produção
agropecuária. Na outra ponta constantemente cobramos e apresentamos soluções ao
poder público.
Precisamos construir juntos alternativas para reduzir o
poder dos impactos climáticos.
Ágide Meneguette é presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR