Debates
Lula preso é justiça ou consumação do golpe?
Mario Martins | 20 de fevereiro de 2018 - 02:52
Por Mário Sérgio de Melo
No dia 10 de fevereiro passado advogado da cidade opinou neste jornal que Lula pode e deve ser preso. Opinião divergente tem um dos juristas de maior reconhecimento no mundo, o italiano Luigi Ferrajoli. Ironicamente, o jurista italiano é um teórico renomado citado com frequência pelos juízes acusadores de Lula na Lava Jato.
Segundo Ferrajoli o julgamento deu-se com impressionante
parcialidade, só explicável pela finalidade de por fim aos governos democráticos
de Lula e Dilma. O processo deu-se de forma inquisitorial, com o juiz, que
deveria ser imparcial, assumindo nítido papel de acusador, destruindo o
princípio básico da justiça. As evidências da parcialidade são: a espetacularização
midiática e demonização de Lula alimentada por pronunciamentos seletivos dos
juízes, demonstrando hostilidade e pré-julgamento que justificariam rejeição
dos magistrados; tendenciosa avaliação das delações premiadas, assumidas como
verdadeiras ou falsas em função das hipóteses acusatórias; a simultaneidade com
o juridicamente frágil impedimento de Dilma, os dois procedimentos com
significado político de uma orquestrada operação de retrocesso democrático; a
aceleração do processo de modo a afastar Lula das eleições presidenciais.
Não bastasse a ilegitimidade dos tendenciosos e acusadores
juízes da Lava Jato, é bom lembrar que existem denúncias de que o juiz Sérgio
Moro e outros tenham participado de treinamentos patrocinados pelos EUA para que a justiça no Brasil viesse a
funcionar de acordo com interesses do Tio Sam, principalmente no que diz
respeito à política e aos recursos naturais do país, como o petróleo do
pré-sal. A farda substituída pela toga. Formulam estas denúncias cientistas
políticos respeitados no Brasil e no mundo, como Marilena Chauí e Jessé Souza.
Há analistas políticos que comparam o julgamento de Lula com
os tribunais do Santo Ofício durante a inquisição. Hoje a mídia cumpre o papel
de inquisidora. Ela, com o judiciário, o legislativo e o executivo, estão
conluiados para manter o poder no Brasil na mão de ambiciosos entreguistas, que
estão rifando as riquezas do país e explorando e imbecilizando a população,
matando nossos sonhos de soberania e democracia.
O verdadeiro golpe de estado no Brasil foi realizado pelos
interesses de oligopólios e rentistas que não se conformaram com os governos
populares que procuraram distribuir renda, promover justiça e inclusão social e
tornar o Brasil um país soberano frente à hegemonia dos interesses globais
controlados por EUA e União Europeia. O golpe destituiu a presidenta legítima
eleita pela maioria da população e colocou em seu lugar um fantoche que traiu o
programa de governo com o qual se elegeu e atua descaradamente em favor dos
interesses da elite do dinheiro.
A mídia sim executou exemplarmente as táticas de
condicionamento reflexo da população semelhantes àquelas utilizadas durante o
nazismo, a ponto de grande parte da classe média passar a apoiar o golpe nocivo
a si mesma, que significa retrocesso enorme das possibilidades do país
firmar-se como nação democrática, independente e com crescente justiça social. A
demonização do Partido dos Trabalhadores, único partido popular que chegou ao
poder no país, mostra isso. Como se os descalabros cometidos pelo PT e seus
quadros não fossem cometidos também pelos outros partidos, por empresários, advogados,
médicos, militares, e, infelizmente, por tanta gente no nosso país.
Lula tem dito que vai ser candidato, independente do rumo de
seu julgamento. Isso porque ele ainda aparece em primeiro nas pesquisas
eleitorais. Ou seja, boa parte dos brasileiros não se deixou lograr pelas
obstinadas táticas de imbecilização empregadas pelo conluio da elite do
dinheiro.
Nem todos somos otários.
Mário Sérgio de Melo é Geólogo, Professor do Departamento de Geociências da UEPG