Debates
A gestão de conflitos no ambiente escolar
Da Redação | 22 de novembro de 2017 - 02:04
Por Jacir J. Venturi
A escola é um espaço de aprendizagem, convivência e alegria.
No entanto, também de conflitos. E é salutar que o seja, pois ela é um
laboratório para a vida adulta e esta exige resiliência às frustrações,
tristezas e divergências. Sendo impossível e até indesejável que se zerem os
conflitos, há como minimizá-los desde que exista um regramento e uma unicidade
de ação e verbalização dos gestores, professores e funcionários.
Ademais, o ambiente escolar é um cadinho da comunidade na
qual está inserido, onde campeiam mazelas e virtudes de toda ordem. Essa
diversidade é uma riqueza, pois o convívio potencializa o desenvolvimento das
habilidades humanas e sociais. Se bilhões de árvores compõem a Floresta
Amazônica e não há duas árvores iguais, quanto mais nós, humanos, dotados de
inteligência e sentimentos! Somos diversos, mas não precisamos ser adversos.
Todavia, no contexto escolar há a presença do bullying, que
em geral é a principal fonte de hostilidades e sofrimento, sendo um indicativo
do quanto a escola está comprometida moralmente. É responsabilidade dos
professores e gestores implementar uma cultura de tolerância, respeito e
aceitação de que somos diferentes, através da vigilância e de ações de
orientação sobre as eventuais agressões.
Todo conflito deve ser atacado no nascedouro, antes que a
marola vire um tsunami, e enfrentado em profundidade, como um desafio, não
apenas tangenciado. Ademais, requer do mediador um bom discernimento para
decidir entre resolver de pronto ou praticar a técnica do decurso dos dias para
que os envolvidos reflitam e maturem. O travesseiro pode ser um bom
conselheiro, ensina a sabedoria popular.
Diante de uma contenda entre duas ou mais pessoas, o
conciliador deve ser imparcial, porém assertivo, e sempre que oportuno aliviar
a tensão com uma boa frase de efeito, como a clássica de Shakespeare: “A
tragédia começa quando os dois lados acham que têm razão”. Recomenda-se, ainda,
enfatizar que há de prevalecer a força dos bons argumentos e a disposição para
o diálogo.
Em casos mais extremados, o educador deve fazer uso de sua
autoridade e exigir alguns minutos para uma reflexão em silêncio. E, sereno,
retomar o diálogo com uma resenha do acontecido ou um toque de humor para
desfazer as nuvens borrasquentas. Por exemplo: vocês sabem por que cavalo dá
coice? E, sorrindo, responde: porque cavalo não sabe argumentar.
É consenso o fato de que a boa rotina, a comunicação eficaz, a disciplina e o bom ensino curricular definem uma gestão escolar eficiente e minimizam os conflitos. Igualmente importante é oportunizar às crianças e aos adolescentes o convívio no ambiente escolar, pois é uma fase única na qual há um baixo custo em se aprender com os erros nas relações humanas. É um singular laboratório para a prática das inteligências inter e intrapessoais (segundo Gardner), que ensejam adultos flexíveis, abertos ao diálogo e que saibam conviver com a diversidade na futura vida profissional e familiar. De todas as virtudes, a mais importante é a solidariedade: base das relações sociais e a partir da qual se fundamenta uma convivência pacífica.
Jacir J. Venturi, coordenador da Universidade Positivo (UP),
foi professor e diretor de escolas públicas e privadas.