Debates
O Impeachment de Dilma: a tragédia tucana
Da Redação | 21 de novembro de 2017 - 03:31
Clodoaldo Anderson Ribeiro e João Lucas Zadra
No fim do século XIX, Oscar Wilde já havia profetizado que “Neste mundo, há apenas duas tragédias: uma a de não satisfazermos os nossos desejos, e a outra a de os satisfazermos.”
Em 2015 iniciava-se o segundo mandato de Dilma produto de uma eleição acirrada e tendo pela frente um forte ajuste econômico em meio a acusações de corrupção envolvendo o PT. A oposição sentia o cheiro de sangue.
Em seguida à vitória nas urnas a oposição se articula com uma despretensiosa ação perante a justiça eleitoral pleiteando a anulação do pleito de 2014 devido a irregularidades da chapa vencedora. Mostrava-se bastante empolgada em aquecer os ânimos que circundavam uma certa pecha - bastante esquizofrênica– de “perigo comunista” quando orquestrou uma inusitada e desastrada visita de senadores tucanos à Venezuela de Maduro, devidamente – e sabidamente – recebida pelos militantes radicais bolivarianos sob uma chuva de insultos e violência à lá Nixon em 1958.
O objetivo central era ingovernabilidade para o governo petista, mesclada com uma tensão ideológica entre a população que daria frutos nas próximas eleições. A estratégia, se bem aplicada, era de longo prazo: sangrar o governo Dilma até 2018 quando então a insatisfação popular com as medidas de austeridade econômica e os múltiplos escândalos de corrupção produziriam um verdadeiro “triunfo romano” nas urnas. O próximo presidente seria certamente tucano com carta branca para implementar as mais profundas reformas.
Entretanto, nem PSDB e nem PMDB contavam com um Ministério Público cada vez mais ativista e um certo juiz paranaense com uma queda pelos holofotes.
Os processos de impeachment acumulavam-se na câmara comandada por Eduardo Cunha e permaneceriam lá como parte da estratégia de paralisia do governo PTista. Apesar de já instaurado, o processo de impeachment parece só ter tomado caminho sem volta depois da desastrada decisão de nomear Lula ministro da Casa Civil, movimento que foi prontamente seguido pelo vazamento de gravação de conversa telefônica entre a presidente e seu padrinho político. Cabe ressaltar que Lula havia sido vítima semanas antes de um autoritário mandato de condução coercitiva sem base jurídica.
O acirramento da crise, a falta de destreza política de Dilma e os abusos do ministério público e do referido juiz dão ao processo de impeachment dinâmica própria. O segundo mandato de Dilma, natimorto, acabara sem ter começado.
Inicia-se o governo Temer ao qual o PSDB prontamente passa a fazer parte. O feitiço vira contra o feiticeiro e agora os tucanos se vêm forçados a defender um governo acuado por acusações de corrupção e cada vez mais impopular. Para piorar, a lava-jato entra em nova fase e oprincipallíder tucano é derrubado por acusações de corrupção.
Hoje, a um ano da eleição, o PSDB de FHC e do plano real, a opção natural ao PT desde 2003, encontra-se entre “Cila e Caríbdis”. Ou segura a “alça do caixão” do governo Temer até o fim, virtualmente acabando com suas chances de eleger um presidente tucano ou abandona o governo do pmdbista agora e busca uma renovação e retorno a suas raízes social democratas. A destituição de Tasso Jereissati da presidência do partido por Aécio parece indicar a vitória da primeira opção e o posterior esfacelamento da sigla.Ironicamente, Lula permanece como líder nas intenções de voto, saindo de 17% emmarço de 16 para 34% atualmente.
Tendo seus desejos realizados, o PSDB parece fadado a um melancólico fim. A segunda tragédia de Oscar Wilde concretiza-se.
Clodoaldo Anderson Ribeiro, professor de história, graduando em economia e pós graduando em gestão pública municipal pela UEPG.
João Lucas Zadra, advogado, especialista em sociologia política pela UFPR e pós graduando em gestão pública pela UEPG.