Debates
Um 2018 de volta a 1989
Da Redação | 15 de novembro de 2017 - 02:28
Por Clodoaldo Anderson Ribeiro e João Lucas Zadra
O pleito de 1989 foi singular por conta de ser a primeira
eleição solteira onde só se votou para presidente, O Plano Real deu novo
sentido às eleições de 1994 e em 1998, foi incluída a possibilidade de
reeleição. Em 2002, havia um sentimento de certeza de que a oposição sairia
vencedora ao passo que o mensalão
assombrou o processo eleitoral de 2006 tornando impossível determinar quem
seria o eleito até 2 semanas antes do segundo turno. A grande popularidade de
Lula permitiu a invenção e a transferência de votos para Dilma, algo que
inédito desde 45 quando Getúlio Vargas elegeu Eurico Gaspar Dutra seu sucessor.
Por sua vez, 2014 guardou semelhança com 1998, se Dilma se
reelegeu postergando problemas na economia - deixando os ajustes para o ano
seguinte - FHC, que mantinha o câmbio supervalorizado ao custo da queima das
reservas internacionais, deixou seu ajuste apenas para 1999, com a
desvalorização cambial pondo fim à primeira fase do plano real.
Sendo assim, chegamos a um 2018 que até aqui é muito
semelhante com a transição de 1989, vejamos os porquês:
I -a impopularidade do presidente em exercício: Sarney apresentava
índices baixíssimos de popularidade que só vieram a ser superados pelo atual
presidente Temer (que também é do PMDB) tornando-o completamente incapaz de
influenciar no pleito que decidiria seu sucessor, todos os principais
candidatos apresentavam-se como oposição ao governo;
II -a crise econômica e social: O desemprego era baixo, mas
a inflação era altíssima saindo de 30% ao mês no começo da campanha e chegando
a 84% no mês da posse do candidato eleito. Em 2018, teremos a informalidade e o
desemprego como principais elementos de crise social.
III–DeLula a Brizola: De certa maneira, Lula pode ser
comparado com o falecido pedetista. Brizola era cogitado ao cargo desde as
eleições de 1965 - que nunca aconteceram - e de volta do exílio, já eleito
governador do Rio, seu partido o oficializou como candidato em 1983, ou seja,
seu nome era ventilado como proposta já havia 6 anos. Já Lula paira sobre o
espectro político nacional desde que elegeu sua sucessora em 2010. Tornando
impossível qualquer debate sobre o futuro da presidência sem a menção ao seu
nome.
IV–Do PMDB ao PSDB:a divisão no principal partido da época
também era evidente, Ulysses Guimarães era o candidato oficial pelo PMDB,
entretanto a base pmdebista preferiu apoiar Collor e Covas. Neste aspecto, a
desunião do PMDB de 1989 assemelha-se muito ao PSDB de 2017, apontando que será
muito difícil para o candidato tucano, contar com a coesão daquele que é um dos
maiores e organizados partidos do país.
V - O anseio pelo "novo": em 1989 o outsider construído
pela mídia foi Collor. Para 2018 já se fala no apresentador Luciano Huck, uma
vez que Dória cada vez mais se inviabiliza para o pleito, seja pela falta de
resultados concretos à frente da prefeitura de São Paulo, seja pelo infame
episódio da ração humana (farinata). Assim, o lugar do "Novo"
continua, de certa forma, ocupado por Bolsonaro.
VI - Eleição pulverizada: em 1989 foram 7 postulantes
expressivos e 22 no total, em 2018 serão entre 6 e 8 com expressão e um número
ainda incalculável de aventureiros.
VII -Ponto de viragem: da mesma maneira que o projeto eleito
em 1989, uma onda neoliberal que seguiu hegemônica até 2002, tudo indica que as
eleições de 2018 definirão o rumo que o país seguirá pelos próximos 20 anos. Em
1989 foi a agenda neoliberal, em 2018 será o "neoliberalismo tardio"
expresso na continuidade da PEC dos gastos e o desmantelamento do Estado que
será necessário para permanecer dentro dessa regra.
Diante deste cenário, parece cada vez mais certo que em 2018
como em 1989 o país “cruzará o Rubicão”. Como disse um ambicioso político em um
ponto de virada da Roma Antiga: “A sorte está lançada”.
Clodoaldo Anderson Ribeiro, graduado em história e graduando
em economia pela UEPG. João Lucas Zadra, advogado, especialista em sociologia
política pela UFPR e pós graduando em gestão pública pela UEPG.