Debates
Precisamos debater o bullying
Da Redação | 25 de outubro de 2017 - 02:34
Por Esther Cristina Pereira
Na última semana a notícia do adolescente que matou a tiros
dois colegas de turma e feriu mais quatro em uma escola particular de Goiânia
comoveu todo o país. O atentado foi automaticamente justificado por práticas de
bullying feitas dentro do colégio. Depois de tomar os depoimentos dos
envolvidos, o delegado responsável pelas investigações revelou que o
adolescente era motivo de chacota pelo mau cheiro que exalava.
A rápida explicação encontrada para justificar tal fato me
fez questionar o quanto a prática de bullying tem sido usada para justificar
tragédias como essa. Outro questionamento que me ocorreu é como um adolescente
de 14 anos tem livre acesso à arma utilizada pela mãe, membro da corporação da
Polícia Militar? Perceba que, nesse caso específico, o suspeito estava na
escola desde o início da manhã e os tiros foram disparados apenas por volta das
11h30. Se ambos os pais do adolescente são policiais militares, como nenhum
deles percebeu nesse intervalo de tempo que a arma utilizada pela mãe em serviço
havia sumido da residência?
O que aconteceu em Goiânia pode ser usado como um ponto de
partida para discussões sobre o tema. A culpa dessa tragédia não pode decair
sobre a instituição escolar, os pais ou qualquer outro envolvido. O que
podemos, e devemos, como sociedade é continuar não aceitando que o assunto seja
abafado. Ultimamente temos presenciado o surgimento de diversas leis envolvendo
esse fenômeno, mas infelizmente no Brasil ainda não há uma ampla sensibilização
da necessidade de criação de políticas públicas efetivas contra o bullying. Há
alguns anos, as escolas brasileiras deixaram de ser um ambiente seguro e
disciplinado para se transformar em palcos de grandes tragédias como essa.
Toda a sociedade precisa estar envolvida em programas
antibullying, pois muitas vezes esse problema decorre do desrespeito e
autoritarismo dos adultos que vivem em torno das crianças. Segundo Cléo Fante,
educadora e autora do livro “Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas
escolas e educar para a paz”, o bullying é uma das formas de violência que mais
cresce no mundo. Precisamos mudar essa realidade. Toda escola deve saber
distinguir o limiar entre uma piada aceitável e uma agressão, seja ela física
ou verbal. A primeira atitude das instituições ao perceber que um de seus
alunos está sofrendo bullying é procurar os pais das crianças envolvidas e
conversar sobre o assunto.
Algumas atitudes são fundamentais para conseguirmos mudar
esse cenário. É necessário conversar com as crianças sobre o respeito às
diferenças e incentivar a solidariedade e a tolerância. Trabalhos didáticos e
atividades desenvolvidas em sala de aula também são elementos que ajudam a
tornar o ambiente escolar em um local apropriado para a formação cidadã, como
deve ser.
Sobre o caso da escola goiana, o foco nesse momento não é
encontrar culpados e sim se voltar para a recuperação de valores essenciais
como o respeito, a cooperação e a solidariedade.
Esther Cristina Pereira é psicopedagoga, diretora da Escola Atuação e presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR)