Debates
O horário de verão é realmente mais econômico?
É preciso analisar bem, ponto a ponto, para saber até onde o benefício pode ser medido
Da Redação | 14 de outubro de 2017 - 02:59
Todas as empresas, especialmente as de Tecnologia da
Informação, questionam a adoção do horário de verão, bem como a economia gerada
pela adoção do mesmo. Não é à toa que, nos últimos dias, ocorreram tantas
discussões em torno do tema. Fazendo algumas contas, chegamos a algumas
conclusões:
A troca do horário dos servidores, dos ativos de rede, dos
bancos de dados e dos demais equipamentos acontece sempre fora do horário do
expediente regular, das 08h às 18h.
Essa troca, feita fora desse horário, gera custos para as
empresas, como horas extras, deslocamentos dos funcionários, alimentação e
algumas outras despesas.
Após a troca, os profissionais precisam ainda ficar em
regime de plantão e aferir se todas as alterações não provocaram alguns efeitos
"colaterais" nos processos dos servidores e das empresas.
Imagine um Datacenter onde milhares de servidores deverão
ter o seu horário alterado. Claro, existem mecanismos para que os horários dos
servidores sejam ajustados quando o horário de verão acabar; porém, existem
também alguns servidores em que não é possível conectar a um centralizador de
horários – ou por não aceitarem por conta de versões de sistemas operacionais
desatualizadas ou por simplesmente não terem essa funcionalidade.
Imagine todos os órgãos públicos e seus servidores e ativos
de rede. Imagine os hospitais com seus servidores, seus ativos de rede e também
os equipamentos médicos. Tenho a nítida impressão de que a economia
proporcionada pelo horário de verão (R$ 147 milhões em 2017) é facilmente
consumida com as horas extras e as demais despesas que as empresas têm de pagar
para levar os seus equipamentos para o horário de verão e depois ter as mesmas
despesas para trazê-los de volta.
São pouco mais de 19 milhões de empresas no Brasil
(19.872.004), segundo o EMPRESOMETRO.COM.BR – Instituto Brasileiro de
Planejamento Tributário. Suponhamos que cada empresa possua um único ativo de
rede ou servidor para trocar o horário de verão, e gaste apenas cinco minutos
para levar e para trazer esse ativo para o horário de verão.
Considerando que economizamos R$ 147.000.000,00 com o
horário de verão em 2016/2017, temos portanto um déficit de R$ 51.720.040,00.
Aqui constam apenas as empresas comerciais e ativas, sem o
setor público, institutos etc. Não é possível colocar também o desgaste das
pessoas que precisam acordar mais cedo para ir ao trabalho (professores,
apresentadores de TV, empregadas domésticas, motoristas e uma infinidade de
trabalhadores brasileiros que moram longe e precisam "madrugar"). Se
colocarmos esse custo "intangível", chegaremos a um valor muito
maior.
Porém, essa conta serve para alertar ou jogar um pouco mais
de luz (não resistindo ao trocadilho), de que a adoção do horário de verão em
tempos de tecnologia avançada, novas formas de geração de energia (eólica,
solar etc.) pode não ser mais plausível nos nossos tempos e em nosso país. A
adoção precisa realmente ser revista e talvez cheguemos à conclusão de que
estamos gastando mais do que economizando.
Juarez Araújo, diretor comercial da DBACorp