Debates
O futuro e o desemprego
Da Redação | 20 de setembro de 2017 - 02:16
Por Clemente Ganz Lúcio
O ritmo de fechamento de postos de trabalho diminuiu no
primeiro semestre de 2017, com a economia no fundo do poço, após uma queda de
mais de 9% do PIB per capita e mais de 14 milhões de desempregados, segundo o
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A taxa de desocupação
ficou em 13,7% no primeiro trimestre deste ano (em 2014, chegou a 6,5%) e em
13% no segundo, primeira queda estatisticamente significativa desde 2014. O
mercado de trabalho brasileiro tem quase 104 milhões de pessoas, 90,2 milhões
de ocupados ou empregados e outros 13,5 milhões de desempregados.
No desemprego medido pela Pesquisa de Emprego e Desemprego
(DIEESE/Seade/parceiros regionais), realizada nas regiões metropolitanas, as
taxas continuam altas, mas há alguma diferença no comportamento do desemprego.
A RM Salvador apresentou, em junho, desemprego em alta, com taxa de 24,9%; a RM
Porto Alegre tem taxa de desemprego muito menor e estável, na casa de 11%; na
RM São Paulo, o maior mercado de trabalho metropolitano, o desemprego é de
18,6% e, no Distrito Federal, de 19,9%, as duas áreas com redução das taxas.
Além da queda do ritmo de fechamento de postos de trabalho,
os indicadores refletem a criação de vagas temporárias na agricultura e o
aumento do número de trabalhadores autônomos, por conta própria e assalariados
sem carteira assinada.
O travamento da economia torna a situação de desemprego
duradoura. O tempo médio de procura por trabalho (segundo a PED) é de 60
semanas na RM Salvador, 43 semanas na RM São Paulo e 37 semanas na RM Porto
Alegre.
Em resumo, o desemprego estaciona, mas em elevados
patamares, deixando como resultado o desalento diante de extenso e tortuoso
tempo de procura para encontrar vagas precárias no setor informal (autônomos e
assalariados sem carteira).
E o futuro ainda pretende entregar três pacotes com
presentes bomba para os trabalhadores.
O primeiro será aberto em novembro, quando a reforma
trabalhista entrar em vigor para, em um mercado de trabalho debilitado por uma
economia em recessão, brindar os trabalhadores com múltiplas formas precárias
e, agora, legais de contratação, de arrochar salários, reduzir direitos e
benefícios.
O segundo presente reserva para 2017 e 2018 uma economia
andando de lado, escorregando no limo da recessão. Os trabalhadores serão ainda
mais pressionados pelo desemprego e, desesperados, submetidos “à livre escolha”
de aceitar os novos postos de trabalho precários, abrindo “livremente” mão dos
direitos.
O terceiro presente virá no centro da profunda
desnacionalização da economia (a venda dos ativos de um país que está barato).
O capital internacional imputará uma modernização tecnológica na base dos
ativos adquiridos, aumentando a produtividade das empresas, com tecnologias que
desempregam e ajustes estruturais do custo do trabalho permitidos pela reforma
trabalhista – a produtividade espúria ganhará legalidade.
Ao Brasil está sendo imposto um caminho para experimentar um
processo de vertiginosa mudança do padrão produtivo, uma imensa concentração de
riqueza e acentuada extensão da pobreza, resultado de uma soberania reduzida à
servidão ao capital financeiro.
Será preciso lutar, sustentar a democracia na raça, para que
os brasileiros e brasileiras deem, pelo voto, outro destino ao país. Será
preciso jogar esses presentes no lixo da história e retomar, com altivez, a
tarefa que cabe a uma nação: conduzir o desenvolvimento do país para promover
desenvolvimento econômico e social que gere bem-estar com qualidade de vida e
sustentabilidade ambiental para todos.
Clemente Ganz Lúcio é Sociólogo, diretor técnico do DIEESE,
membro do CDES – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e do Grupo
Reindustrialização