Debates
O primeiro escrito do Cristianismo
Mario Martins | 07 de setembro de 2017 - 02:51
Por Osvaldo Luiz
Desde 1971, a igreja no Brasil dedica o mês de setembro à
Bíblia, para aprofundar a reflexão da Palavra de Deus a partir de um tema ou de
um livro. Este mês foi escolhido por conta da memória de São Jerônimo (dia 30),
grande divulgador da Bíblia e seu tradutor para o latim (Vulgata).
O tema escolhido para 2017 – “Para que n’Ele nossos povos
tenham vida” – foi inspirado no título do Documento de Aparecida e o lema na
Carta aos Tessalonicenses: “Anunciar o Evangelho e doar a própria vida” (1Ts
2,8).
Datada do ano 50 ou 51, a Carta aos Tessalonicenses é o
primeiro escrito do Cristianismo, anterior até mesmo aos Atos dos Apóstolos e
aos evangelhos. Ela também é de vanguarda ao utilizar pela primeira vez a
palavra “evangelho” para se referir aos fatos relacionados a Jesus. Antes, a
palavra era utilizada para se referir a um presente ofertado a quem dava uma
boa notícia ou a boa-nova de uma vitória militar.
Nesta primeira carta, já temos, com destaque, as chamadas
virtudes teologais: fé, caridade e esperança, com ligações muito concretas: às
obras, aos sacrifícios e à firmeza (1Ts 1,3). A compreensão sobre a Santíssima
Trindade já é perceptível, sendo o nome de Deus citado 33 vezes, mesma
quantidade de citação a Jesus. O Espírito Santo tem quatro alusões.
Em Tessalonicenses, predomina a linguagem da tribulação e o
estilo apocalíptico, falando da segunda vinda de Cristo (parusia).
Paulo chega a Tessalônica com Silvano (Silas), vindos de
Filipos, onde tinham sido duramente açoitados – sem roupa e em público – e
presos com os pés amarrados num tronco. Soltos, os missionários descem para a
cidade litorânea dos tessalonicenses, uma grande cidade grega com um
movimentado porto comercial.
Não é possível precisar o tempo que Paulo passa na cidade,
mas nesse tempo, para não ser um peso nessa comunidade tão pobre, o apóstolo
faz questão de viver de seu ofício: fabricante de tendas
Essa atitude causa uma forte empatia e entrosamento com a comunidade
e a consequente perseguição dos que estavam à frente da cidade, que seguindo a
mentalidade greco-romana, viam no trabalho braçal algo indigno, próprio de
escravos. O desejo dominante era pelo ócio, a negação ao trabalho. Outro
aspecto importante da cultura local, em forte conflito com a iniciante pregação
cristã, era o desprezo para com o casamento, porque viviam a sexualidade
desregrada, com prostituição e abusos.
Os missionários passaram a incomodar tanto que foram
entregues ao Senado da cidade, acusados de levar à população transtornos já
vistos em outras localidades e de serem revolucionários, ao anunciar Jesus como
rei em contraposição a César. A perseguição foi tão séria que tiveram que fugir
à noite para a cidade de Beréia, e depois para Atenas.
No primeiro escrito do Novo Testamento, há um clima de
liberdade e confiança, com muita sinceridade e transparência, espontaneidade e
afeto: “Imaginai uma mãe acalentando os seus filhinhos, assim a nossa afeição
por vós” (1Ts 2,7-8). A palavra irmãos é empregada 19 vezes e a riqueza de
temas é grande. Começa com a grande ação de graças e o apelo à perseverança e,
num segundo momento, o chamado à santidade, à vivência no amor e à vigilância.
Osvaldo Luiz Silva é jornalista, autor dos livros “Ternura
de Deus” e “A vida é caminhar”, pela Editora Canção Nova, editor da Revista Canção
Nova.e Presidente da Academia Cachoeirense de Letras e Artes (ACLA), em
Cachoeira Paulista (SP).