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O Galo cantou e a casa caiu!
Mario Martins | 02 de setembro de 2017 - 03:25
Por José Ruiter Cordeiro
Fosse
eu delatado injusta ou mentirosamente por qualquer pessoa, em troca de
diminuição de pena ou de qualquer outro benefício por ela recebido; certamente
buscaria de todas as formas e imediatamente, apurar as razões que a levaram a
assacar tais inverdades; ingressando na justiça – em todas as instâncias – ou,
sumariamente, a buscaria onde quer que ela estivesse e lavaria minha honra e da
minha família; posto que todos seriam
envolvidos! Assim faria, exatamente por considerar que o zelo pelo nome
é um direito inalienável de qualquer pessoa que se tenha com dignidade e
caráter suficientes.
Entretanto,
caso eu tivesse culpa pelo todo ou mesmo por parte do que a delação se
referisse, a esperteza reinante sugeriria que negasse peremptoriamente, já em
virtude do fatalismo procrastinatório que viceja em todos os compartimentos
técnico-jurídicos do cipoal processual que engessa e faz tardia qualquer
solução junto ao Judiciário Brasileiro. E,
nesse exercício jocoso e reiterado de proclamação de inocência, insistiria que o delator afirmou tais inverdades somente
para escapar do peso da pena que sobre ele recairia...E, por isso dissera aos
investigadores (MP, PF e assemelhados), deslavadas infâmias, inclusive
objetivando, além de escapar da pena, como já dito; também uma perseguição
política ou político-partidária que me afastasse da vida pública.
Isso
seria cômico se não fossem tão trágicas as consequências de fatos assim
recorrentes, principalmente após essa ferramenta democrática instituída pela
Lava Jato, e posta à disposição da cidadania brasileira!
Quais
os argumentos passíveis de serem levantados e apresentados, que fossem aptos a
nos levar a acreditar que todos os delatores mentiram ou estejam mentindo? Por que
esses delatores – obviamente criminosos – tentariam escapar da pena, inventando
coisas – quando suas declarações teriam de ser confirmadas e comprovadas, para
daí cumprirem o objetivo que os socorressem? E, finalmente, por que fazer tanto
mal para políticos (e seus familiares), invariavelmente destacados e com grande
poder; quando a emenda resultaria pior que o soneto, em vista de que esses injustiçados
e perseguidos seriam implacáveis e não lhes dariam tréguas, na sequência (como
já referido!)
Mutatis mutandis, como recepcionar a ideia hilária de que
todos os citados pelos delatores – sem nenhuma exceção – não tenham a menor
culpa no cartório; sejam os valores recebidos em malas, mochilas, bolsas, em
conta corrente; aqui ou no exterior, diretamente ou por terceiros...ou lavados
em aquisições de joias, obras artísticas, imóveis, bens e produtos quaisquer
que a fértil imaginação que gabinetes e alcovas possam engendrar?!?
Tal é o
caso em que, agora, nestes dias, o Paraná e Ponta Grossa estão sendo citados
nesse mesmo rol de barbaridades tantas que enxovalham e fazem roto qualquer tecido de brasilidade que até
então nos orgulhasse; ainda mais assim tão próximo do aniversário desta Capital
Cívica do Paraná.
Meu
Deus..., como continuarmos insensíveis ou cruzarmos os braços, diante do teatro de horrores ou da farra do boi que o
cotidiano mostra e comprova magistralmente por todos os meios de comunicação;
ainda que – diante dos mesmos elementos e argumentos sobejos -; alguns Juízes,
Desembargadores e Ministros; quase caricaturas, se comportem com inacreditável
surrealismo e lassidão; inclusive soltando, liberando, facilitando e acoitando
malfeitores useiros e vezeiros na arte de açoitar a sociedade com seus
desmandos e lances de esperteza sem nenhuma graça!
Até
quando? Até quando continuaremos comentando apenas nos bastidores ou no
aconchego de bares ou cafezinhos de ruas importantes/históricas/ancestrais...?
Vamos,
pois, passar a limpo nossa sociedade brasileira, começando por nossa Cidade e
nosso Estado; dando a oportunidade para que denunciados escancarem suas
vísceras e se arrependam de seus pecados contra o bem comum e se afastem da
vida pública; ou provem – à exaustão – sua inocência e expliquem, inteligente e
verdadeiramente – as razões que teriam levado os denunciantes a os enredarem
assim tão profundamente nesses descalabros, nesses desvios e nessas
falcatruas...; mas não com os argumentos já exauridos e sem nenhum fundamento
de que eles o fizeram para escapar do peso de sentenças judiciais ou por
perseguição política de qualquer matiz...
Ora,
ora, ora...eu sei que os idealistas costumam caminhar sozinhos; mas porque não
acreditarmos que um dia poderemos vir a ser em quantidade suficiente, para daí
construirmos um país que volte a ser a
sede do mais autêntico orgulho de um povo, e tenhamos certeza de que os até
aqui famigerados representantes, venham a estampar e defender o bem comum e o
interesse público, nada mais!
Enfim, fica claro que o galo cantou e cantou alto e bom som; e se não houver fundamento e consistência nos argumentos da defesa, certamente a casa cairá. Acautelem-se, pois, aqueles que não acreditavam no Juízo Final!
José Ruiter Cordeiro (advogado e membro da ALCG)