Conselho Da Comunidade
Só criticar não resolve nada
Administrador | 28 de outubro de 2016 - 03:22
Por João Elter Borges Miranda
O movimento de ocupação de escolas cresce a cada dia. Mais
de mil escolas e sessenta universidades foram ocupadas, em 19 estados em todo o
país, sendo o Paraná o epicentro dessa luta em defesa da educação. Provavelmente
quando este artigo for publicado esses números estarão desatualizados, porque é
tudo tão rápido e dinâmico que outras instituições já terão sido ocupadas. Esse
movimento é uma vitória não só para a nossa geração, como também para todas as
futuras que através dessa luta terão o seu direito à Educação assegurado.
Em Ponta Grossa vimos recentemente a ocupação da UEPG, que
começou no prédio da Reitoria e que agora, após negociações, se estabeleceu no
Centro de Convivência. Foi uma vitória a ocupação da Reitoria que não raro é
tratada como uma fortaleza e o campus entendido como um feudo, onde a opinião
dos estudantes, professores, servidores, geralmente tem que se submeter a do
administrador-central.
Infelizmente, no processo de ocupação do prédio da Reitoria
ocorreram erros de ambos os lados. Ele estava todo trancafiado com cadeados e
foi recusado a abertura de uma das portas. Isso exigiu que uma delas fosse
relocada pelos estudantes para possibilitar a sua entrada. No momento da
entrada, um descontrolado, que antes ofendia estudantes e servidores, entrou em
entrechoque com os estudantes, causando confusão. Tudo isso teria sido evitado
se o prédio não estivesse trancafiado e, principalmente, se a Administração
Central tivesse prezado pelo estabelecimento do diálogo com os estudantes.
Após os vídeos da ocupação desse prédio serem divulgados,
vimos a comoção de boa parte dos ponta-grossenses e a fúria da mídia local. Uma
pena todo esse rebuliço acontecer por um fato isolado. Uma pena não vermos
tanta comoção quando o engravatado que encabeça a administração-mor do nosso Estado
implementa medidas que sucateiam e esgoelam a UEPG e todas as outras
universidades e escolas estaduais. Uma pena também não vermos uma comoção tão
grande e abrangente quando estudantes, servidores, professores, são nos espaços
dessa universidade assaltados, outras violentadas sexualmente, alguns
esfaqueados, entre outras tantas violências que a comunidade vem sofrendo há
anos.
Não sei se toda essa atenção que foi despendida para a
confusão do momento da ocupação do prédio da Reitoria é mesmo comoção ou não
passa de cinismo. Não sei! Só sei que enquanto muitos ficam esperando dos
outros um papel que não cumpriu dignamente, a geração que cresceu ouvindo
críticas por “não se interessar” por política está provocando um abalo sísmico
no sistema político do país. Enquanto muitos acham que estão fazendo política
criticando nas ruas e nas redes sociais quem está em luta, os jovens que estão
ocupando fazem Política, com “P” maiúsculo.
Criticar faz parte e é democrático, mas não podemos nos restringir a isso. Então, se muitos ponta-grossenses estão mesmo tão incomodados com o andar da carruagem, que se levantem e vão fazer algo a respeito, ao invés de se limitarem a ficar criticando. Nós estudantes e educadores estamos fazendo. Sabemos que a educação brasileira está sob ataque, em crise, e compreendemos a importância de não arredarmos o pé da luta até que os nossos direitos estejam assegurados. Temos, enfim, clareza de que não ergueremos um país melhor somente com críticas e braços cruzados.
João Elter Borges Miranda
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Tema da Semana
A ocupação da Reitoria da UEPG e a crise na Educação