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Imagem ilustrativa da imagem Boa esperança

Por João Elter Borges Miranda

No final de 2015 as ocupações das escolas em São Paulo explodiram. Logo depois, esse movimento se estendeu para outros estados. No Paraná, até recentemente, elas não ocorreram e pareciam que não iriam ocorrer. As ocupações das escolas paranaenses começaram com força após o Governo de Michel Temer aprovar a Medida Provisória 746, conhecida como “MP do Ensino Médio”, que o reforma segundo padrões tecnocráticos flexibilizando a grade curricular e expandindo a carga horária.

Interessante é que agora em nosso estado as ocupações são mais fortes e extensas do que a de qualquer outro estado anteriormente. O Paraná é hoje a vanguarda dessa luta. Se me perguntarem as razões de aqui as ocupações terem começado mais tarde e agora possuírem uma dimensão muito maior, direi: Não sei! De fato, não sei o que possibilitou isso. Mas, sinto grande esperança ao ver jovens no parapeito da vida adulta lutarem por aquilo que acreditam.

Num tempo em que muitos fazem silêncio perante os erros e ataques perpetrados pelos nossos governantes, sinto esperança ao ver jovens, em defesa da educação, ocuparem escolas e cuidarem dela com tanto carinho. Eles poderiam estar em casa, na balada, no shopping, mas decidiram ficar na escola, acampados, organizando, limpando, fazendo oficinas. Preferiram ficar na escola resistindo aos gritos das pessoas que passam do lado de fora e os chamam de uma porção de coisas, como “comunistas”, “petistas”, “maconheiros”. Preferiram ficar na escola para defender a educação dos ataques do Governo. Não há palavras que dão conta de descrever o quão incrível isso é.

Sinto esperança porque acredito que os efeitos da experiência que os secundaristas estão vivenciando nas ocupações transcenderá a própria experiência. É o que alguns chamam de Kairós. Na estrutura linguística, simbólica e temporal da civilização moderna, emprega-se uma só palavra para significar a noção de “tempo”. Diferentemente de nós, os gregos antigos tinham duas palavras para o tempo: chronos e kairós. Enquanto a primeira refere-se ao tempo cronológico que pode ser medido por possuir natureza quantitativa, Kairós possui natureza qualitativa, indicador do momento no tempo em que algo especial acontece.

Dessa forma, Kairós poder ser entendida como a experiência com efeitos que transcendem a própria experiência. É aquele momento em que adquirimos um aprendizado que carregaremos para sempre. Nas minhas poucas luzes, acredito que os jovens que estão protagonizando as ocupações têm com esse ato incrível adquirido uma experiência tal que os marcarão por toda a vida. Poderá ser o Kairós deles. Em algum momento, o Governo pode até desocupar as escolas, mas nunca conseguirá tirar deles o que significou essa luta.

Eles não serão mais os mesmos. Se empoderaram de tal maneira que não tenho dúvidas de que protagonizarão outras tantas lutas que paulatinamente farão deste país um lugar melhor para se viver. Numa época em que não raro somente se vislumbra um horizonte decadente, a luta perpetrada pelos secundaristas é, assim, como um sopro de novos tempos. Em toda a sua vitalidade e beleza, eles estão mostrando que ainda é possível tomarmos as rédeas do futuro e transcendermos o regime de opressão que cotidianamente nos agride.

Os secundaristas mostram, portanto, que nem tudo está perdido. E isso me enche de esperança.

João Elter Borges Miranda
[email protected]

Tema da Semana:

Sem hora de recreio: o que existe por trás da ocupação de escolas em Ponta Grossa e no Paraná?

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