Conselho Da Comunidade
A Casa Grande se ilude
Administrador | 04 de agosto de 2016 - 02:02
Por João Elter Borges Miranda
A crise financeira mundial avança como uma chuva ácida
espalhando todos os seus males. O desemprego e a miséria assombram muitos e
para outros tantos é um pesadelo que voltou a se tornar realidade. Debaixo da
asa do ilegítimo “governo (golpista) da salvação nacional”, a poderosa tríade
formada por grupos políticos, órgãos de comunicação e uma parcela do
judiciário, que já possuíam há séculos os seus tentáculos espalhados em cima de
terras, pessoas, direitos, se articulam para rifar o país e fazer voltar o passado
que representam.
Perante a crise que nos atenta, o que fazem os vereadores da
Câmara Municipal de Ponta Grossa? Os nossos representantes, ao invés de
trabalharem para aplacar o avanço do abismo que separa ricos e pobres,
aprovaram na semana passada um projeto de lei que assegura os seus privilégios.
Se trata do projeto de lei 279/2016, aprovado no dia 27 de julho, de autoria da
Mesa Executiva, que prevê que os vereadores que vencerem as eleições deste ano,
recebam mensalmente o valor de R$ 10.063.29 – o montante é o mesmo pago aos
atuais vereadores. De acordo com a iniciativa injusta, o presidente da Câmara continuará
recebendo o salário de R$ 10 mil e mais R$ 5.031.70, referente a 50% do
rendimento total, além de direito a um gabinete especial e outros quatro
assessores. Os outros 22 vereadores poderão continuar nomeando um chefe de
gabinete com salário mensal de R$ 4.130,34, e outros dois assessores, um com a
remuneração de R$ 2.694,02 e outro de R$ 3.188,63.
O salário médio do trabalhador brasileiro em janeiro de 2016
foi de R$ 2.227,50, segundo levantamento feito nas regiões metropolitanas de
Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Porto Alegre. Os
dados são da PME (Pesquisa Mensal de Emprego) e foram divulgados pelo IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística). Se compararmos com a média salarial do
brasileiro, o salário dos vereadores é, portanto, um absurdo.
Observo esses antagonismos e penso: o que os vereadores
pensam que são? Acham que são uma minoria contemplada por divindades, à qual
tudo é consentido e concedido? O fato de os vereadores de nossa cidade terem
aprovado um projeto que garante a continuação dos seus privilégios é só prova
cabal de que eles não têm a ideia do que está acontecendo no país. Os parasitas
representantes das oligarquias locais se iludem ao pensar que a Casa Grande se
manterá em pé. Se iludem ao pensar que os seus privilégios não serão
contestados.
O Brasil do século XXI é diferente. Enquanto os
representantes da velha política lutam para comandar o atraso, o povo está cada
dia mais entendendo que o mundo de hoje é apenas um momento do longo processo
histórico e a convivência pode ser mudada. Estamos compreendendo que podemos e
devemos botar de pé uma outra sociedade, uma sociedade que opere em outra
lógica, porque a atual que temos, profundamente mergulhada em injustiça social,
está nos matando. Se enganam, assim, as múmias que acham que o Golpe marcou o
fim da história e que agora podem continuar tomando para si os recursos
públicos e fazerem com eles o que bem entenderem. A história não está dada e a
luta mal começou.
Um desejo de reconfiguração da cena política, portanto, cresce a cada dia. Não aceitamos mais a velha ordem das coisas e do progresso para os mesmos de sempre. Se não for para todos, não será para ninguém.
João Elter Borges Miranda
[email protected]
Tema da Semana:
Vereadores garantem R$ 10 mil por mês para o próximo
mandato. Eles fazem por merecer este salário?