Cinema
‘Zoom’ é provocativo em forma e conteúdo
‘Zoom’ é provocativo em forma e conteúdo
Da Redação | 20 de janeiro de 2018 - 01:52
“Adoramos a perfeição porque não a podemos ter”. Em certo momento de ‘Zoom’, dirigido pelo brasileiro Pedro Morelli, a frase do poeta português Fernando Pessoa é dita por uma das personagens. Essas palavras guardam, em si, parte daquilo que essa coprodução entre Brasil e Canadá discute: a insensatez da importância excessiva dada à beleza física.
Mas como se trata de um filme altamente provocativo, em linguagem e mensagem, o conteúdo não para por aí. É possível identificar que o trabalho de Morelli aproxima seu zoom, também, sobre a fome comercial desenfreada de Hollywood, a metalinguagem (o cinema falando do cinema) e a inventividade do entrelaçamento de histórias, só para citar alguns exemplos. Até a quantidade de “likes” obtidos por uma foto nas redes sociais tem seu momento de enfoque e, pelo contexto, não deixa de ser uma alfinetada à preocupação com a ciberpopularidade.
A proposta de ‘Zoom’ lembra (e muito!) o estilo de Charlie Kaufman, a mente criativa responsável pelo roteiro de obras instigantes como ‘Quero ser John Malkovich’, ‘Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças’ e ‘Adaptação’. Três histórias “correm” paralelamente, em termos de assunto e técnica.
Emma (Alison Pill) é uma quadrinista que divide os trabalhos artísticos com as atividades em uma fábrica de bonecas sexuais. Esse conto é exibido em live action (com atores reais), mas também apresenta momentos de história em quadrinhos.
Michelle (Mariana Ximenes) é uma modelo que deseja tornar-se escritora. No entanto, recebe mais crédito por seus atributos físicos do que por seu intelecto. Esse segmento da história também é construído em live action.
Edward (Gael García Bernal) é um diretor em conflito tanto com o tamanho de seu órgão genital quanto com o estúdio: enquanto ele busca realizar uma obra mais artística/sensível/autoral, a pressão de quem o financia é para que o projeto tenha consistência mais comercial. Essa história é feita na forma de animação.
O caráter paralelo dessas três tramas é quebrado aos poucos até que o espectador tome consciência do quanto elas se entrelaçam, culminando em um exercício de atenção e admiração pela criatividade.