‘Assim é a Vida’ reforça humor só no terço final

Max (Jean-Pierre Bacri) sobrevive profissionalmente organizando festas de casamento e, por ironia, a certa altura de ‘Assim é a Vida’ alguém o alerta que seu casamento “cheira a tédio”. Facilmente o espectador é convidado a achar que a afirmação aplica-se ao próprio filme. O ritmo arrasta-se e quase todas as tentativas de humor fracassam.

Mas eis que começa uma explicação engraçada sobre aplicativos de namoro por geolocalização. O fotógrafo ignorante em tecnologia recebe de seu jovem estagiário uma aula sobre o assunto. A cena é um divisor: demarca o início do terço final do filme, que apresenta uma guinada e ganha em humor e qualidade, compensando as fragilidades apresentadas até então.

Outro exemplo do acerto cômico acontece quando um dos personagens fala para Max que organizar festas de casamento é algo mágico por ser um trabalho que coloca os profissionais sempre “lado a lado com a felicidade”. É muita ironia para alguém prestes a ter um infarto por mediar conflitos incontáveis, ser responsável por tantas tomadas de decisão em tempo recorde, conviver com chatices de cliente, administrar bizarrices de convidados e ser alvo de piadas fora de hora.

O ritmo acelerado da profissão do protagonista é demarcado pelos diálogos constantes: existe uma “tempestade” de palavras o tempo todo, dando ideia da pressão que sofre o líder de uma equipe responsável por organizar casamentos.

A comédia ganha fôlego com tipos como o noivo completamente arrogante, egocêntrico, com mania de grandeza e orador de discursos intermináveis. Ou a funcionária que se irrita com extrema facilidade. Ou, ainda, o fotógrafo comilão que tem uma peculiar e superficial teoria de autoajuda: simplesmente mentaliza que os problemas são fruto de sua imaginação.

‘Assim é a Vida’ tem um chamariz especial: foi escrito e dirigido por Olivier Nakache e Eric Toledano, os mesmos do sucesso ‘Intocáveis’. Por mais que não tenha o mesmo impacto do filme anterior, ‘Assim é a Vida’ funciona como entretenimento leve. É um retrato sensível e bem-humorado do trabalho em equipe, com vários aspectos bons e nem tão bons disso. Uma produção, enfim, cheia de altos e baixos. Assim como a vida.