Cinema
Detalhes e versões são a base do excelente suspense espanhol ‘Um Contratempo’
Detalhes e versões são a base do excelente suspense espanhol ‘Um Contratempo’
Da Redação | 09 de setembro de 2017 - 01:16
“A legitimidade é baseada nos detalhes”. É com convicção severa, cortante, quase grosseira, que a advogada Virginia Goodman (Ana Wagener) diz isso para seu mais novo cliente, o empresário de tecnologia Adrián Doria (Mario Casas), que a contratou para defendê-lo da acusação de homicídio. O cuidado com os detalhes, enfim, é um dos elementos mais importantes sobre o qual se sustenta o excelente suspense espanhol ‘Um Contratempo’.
Outro elemento importante é a multiplicidade de versões. O filme, dirigido e roteirizado por Oriol Paulo, mostra o quanto é possível uma história ser contada de diferentes formas. O diálogo entre Doria e Virginia é um verdadeiro caleidoscópio de versões que, na mesma medida em que elevam as interrogações e enredam o espectador, enriquecem a qualidade do material que é entregue.
Ao acordar em um quarto de hotel, Doria descobre que, a poucos passos, está o corpo de sua amante morta. Como não há qualquer maneira de entrar ou sair, Doria é automática e inevitavelmente considerado o autor do crime, após a perícia policial no local do assassinato. Cliente e advogada, então, travam uma batalha intelectual para montar a melhor estratégia de defesa. É a partir dessa batalha que se estrutura todo o filme, fortemente amparado em flashbacks.
‘Um Contratempo’ tem características de noir, com a presença de fraquezas humanas, ambiente noturno, uso de narração, assassinato, roteiro intrincado e morais ambíguas e relativas. Em termos gerais, é um daqueles tantos filmes que provoca o espectador a vê-lo de novo e de novo e de novo. Não apenas pelo exercício lógico de ligar os pontos, averiguar as minúcias, confrontar o próprio raciocínio com o do roteirista, mas, também, pelo simples e genuíno prazer de acompanhar a um filme de qualidade.