Cinema
'O Preço do Amanhã' é profundamente Hollywood, mas atrai pela premissa
A humanidade conseguiu bloquear o envelhecimento. As pessoas podem viver eternamente, mas desde que paguem por isso
Da Redação | 15 de julho de 2017 - 02:21
A humanidade conseguiu bloquear o envelhecimento. As pessoas podem viver eternamente, mas desde que paguem por isso. Quando chegam aos 25 anos, um relógio digital visível na pele é acionado para indicar o quanto cada um viverá. Esse tempo pode ser transferido entre os indivíduos, aumentado, diminuído (exatamente como acontece hoje com o dinheiro). Em outras palavras: o tempo virou moeda. Os mais ricos? Têm condições de viver séculos, aproveitam cada segundo sem pressa. Os mais pobres? Permanecem na agonia a partir dos 25 anos, afinal, não é fácil ver a contagem regressiva rumo à morte tão evidente no próprio braço.
Assim é o mundo desenhado em 'O Preço do Amanhã', que traz o astro pop Justin Timberlake no papel do protagonista Will Salas. O filme é escrito e dirigido por Andrew Niccol, ninguém menos que o responsável por obras respeitáveis como 'Gattaca – Experiência Genética', 'O Terminal' e 'O Senhor das Armas'. Niccol, inclusive, é a mente criativa por trás do roteiro do estupendo 'O Show de Truman'. Com um currículo desses, é natural esperar do cineasta algo instigante. E assim acontece.
'O Preço do Amanhã' é mais um daqueles filmes que se lança para o futuro para provocar sobre o presente. Basta ver o trailer ou ler a sinopse para perceber, de cara, que a obra permite interpretações óbvias de que tempo é dinheiro e de que ricos e pobres apresentam diferenças abismais num mundo ultracapitalista. O impacto dessa provocação é considerável quando se vê que o capital não é apenas dígito em telas ou papel circulando, mas a própria vida em jogo.
Além dessas leituras evidentes, o roteiro mostra uma sociedade profundamente dividida em castas, exibidas sob a metáfora de fusos horários, e o desperdício que algumas pessoas fazem da própria vida. Exemplo? Um dos personagens recebe tempo extra, não sabe aproveitar a dádiva e morre antes do previsto.
O ponto frágil deste trabalho é transformar-se em um filme como tantos outros já realizados por Hollywood. Ele é bem convencional em sua narrativa, seguindo à risca a cartilha da “meca estadunidense do cinema”. Existe a polarização clara entre “mocinhos” e “bandidos” e perseguições constantes. Mesmo assim, vale pela premissa.