ESPORTES
Operário supera desafios, derruba previsões e é campeão brasileiro
Com estádio lotado, Fantasma de Vila Oficinas apenas administrou a enorme vantagem obtida no primeiro jogo
Gabriel Sartini | 12 de setembro de 2017 - 00:43
Mesmo com derrota em
casa, Operário conquista o título da Série D do Campeonato Brasileiro
Depois de 105 anos de história, o Operário Ferroviário
finalmente atinge seu momento de maior glória. Com mais uma atuação irrepreensível,
o Fantasma confirmou a vantagem gigantesca obtida no primeiro jogo, venceu no
Germano Krüger e garantiu o primeiro título nacional de sua rica história. Para
delírio da torcida alvinegra, que lotou o estádio e também o Parque Ambiental,
onde o jogo foi transmitido ao vivo em um telão para a multidão que não
conseguiu comprar ingresso para o jogo decisivo.
A semana passou devagar. Depois dos 5 a 0 aplicados em
Ceará-Mirim (RN) no primeiro jogo da final da Série D, o torcedor esgotou os
mais de 8 mil ingressos colocados à venda para a decisão diante do Globo e
esperou ansiosamente a chegada da noite deste domingo (10) para lotar o GK e
empurrar o time em direção à tão sonhada taça. A empolgação do torcedor foi
correspondida dentro de campo e os jogadores mostraram muita entrega para devolver
o carinho da torcida.
Em todas as entrevistas, jogadores e comissão técnica
pregaram respeito ao adversário e, embora reconhecessem a vantagem para o
confronto de volta, tentavam conter a ansiedade e o nervosismo e fizeram
questão de não cantar vitória antes do tempo. Mas isso não quer dizer que a torcida
não se deixou levar pela goleada no Rio Grande do Norte. Um dia depois do jogo,
as entradas para a decisão já estavam esgotadas e o sentimento de amor pelo Operário
voltou mais forte do que nunca para o ponta-grossense, que começou o ano
decepcionado com o time.
Tributo a Danilo
Antes mesmo da comemoração pelo título, a torcida já tinha
se emocionado com outro momento marcante e que colocou o Fantasma nas notícias
em todo o país. O goleiro Simão entrou em campo com um uniforme homenageando
Danilo Padilha, goleiro que defendeu o Operário em 2009 e 2010 e morreu no fim
do ano passado na tragédia do voo com o elenco da Chapecoense. A mãe dele,
Ilaídes Padilha, estava no Germano Krüger para receber a homenagem do time.
O jogo
A ansiedade era visível em todos os cantos do Germano
Krüger. É claro que a vitória por 5 a 0 no jogo de ida garantia uma
tranquilidade maior para o Operário, mas a atmosfera criada pelos mais de 8 mil
torcedores que lotaram o estádio deixaram o clima especial. Muito perto do
título, o Fantasma começou a partida nervoso, esperando que os 90 minutos
terminassem para finalmente acabar com a agonia e fazer a festa.
Os donos da casa começaram fortes e, com um minuto, Robinho
recebeu na entrada da área e foi travado na hora do chute. A torcida gritava ‘olé’
antes dos três minutos, mas isso não intimidou o Globo, que tentava ao menos
fazer um jogo digno e levou perigo com bola alçada na área aos 5 minutos.
O jogo ficou bastante corrido nos primeiros 20 minutos, com
oportunidades dos dois lados. Reinaldo chutou de longe e a bola passou perto da
meta defendida por Simão. Pouco depois, Quirino limpou a zaga e chutou forte
para a defesa de Dasaev. Até que, aos 24 minutos, o Globo abriu o placar.
Cobrança de escanteio, a bola sobrou para Tiago Lima dentro da pequena área
chutar forte e fazer o primeiro do time potiguar – foi o oitavo gol sofrido
pelo Operário na Série D e o primeiro nos últimos quatro jogos.
O Fantasma respondeu rápido e Batatinha recebeu em profundidade
pela direita e bateu forte para a defesa de Dasaev. No minuto seguinte, boa chegada
pelo mesmo lado e o goleiro do time potiguar voltou a aparecer bem no jogo. Depois
de mais uma chegada pela direita, desta vez com Jean Carlo chutando de fora da
área, o Fantasma diminuiu a pressão e passou a administrar o jogo – afinal de
contas, o Globo ainda precisaria fazer mais quatro para levar a decisão para os
pênaltis.
O ‘encontrão’ entre Quirino e Ângelo, que se estranharam na
lateral do campo, dava o tom de tensão da partida decisiva – os dois levaram
cartão amarelo na confusão. O jogo ficou mais travado no meio de campo, com
muitas faltas e desarmes, mas nenhum dos times levou grande perigo até o fim da
primeira etapa.
Mesmo com o placar não sendo o ideal para nenhum dos times,
os dois times voltaram sem alterações para a segunda etapa. O Fantasma não
queria perder a invencibilidade dentro de casa e garantir o resultado que
confirmaria o título da Série D, enquanto o Globo ainda sonhava em fazer mais
gols para, pelo menos, levar a decisão para os pênaltis.
O nervosismo e a ansiedade pelo fim dos últimos 45 minutos
do campeonato prejudicaram o futebol do Operário, que não conseguia trocar
passes e cometia erros que, visivelmente, eram provocados pela tensão de ficar
cada segundo mais perto do troféu. Assim que passava da intermediária, o time
se perdia em campo e não conseguia completar as jogadas de ataque. A primeira
boa chance foi aparecer só aos 10 minutos, com Batatinha chutando de fora da
área para boa defesa de Dasaev.
A boa chegada de Jean Carlo pela direita, que não encontrou
ninguém no meio da área, parecia um presságio para o primeiro gol do Fantasma. Robinho
chegou ainda mais perto do gol de empate em cobrança de falta da entrada da
área. A partir dos 20 minutos, o Globo parecia consciente de que não teria
condições de fazer os gols que precisava e o ritmo da partida caiu bastante.
Com o resultado ‘favorável’, o Operário se conformou em
tocar a bola no meio de campo e explorar os buracos na defesa do Globo.
Cansado, o time potiguar colocou todos os jogadores o campo de defesa e se
preocupou mais em garantir a ‘vitória de honra’ do que, necessariamente, buscar
o resultado que levaria a decisão por pênaltis. Até a torcida ficou mais quieta
com o jogo ‘sonolento’ que se formou na segunda etapa.
O torcedor só foi acordar aos 32, quando Sosa dividiu com o
goleiro Dasaev e a bola entrou – o árbitro marcou falta do zagueiro alvinegro e
anulou o gol. A jogada animou até mesmo os atletas que estavam em campo, que voltaram
a pressionar o Globo em busca do empate. O time potiguar cozinhou o jogo o
máximo possível, mas a festa da torcida tomou conta das arquibancadas do
Germano Krüger e do Parque Ambiental.