Safra
Supersafra expõe deficit no armazenamento de grãos
Produção total na região ultrapassará os 3,5 milhões de toneladas, maior valor da história
Fernando Rogala | 24 de maio de 2017 - 10:56
A safra de verão está quase toda colhida na região dos
Campos Gerais. Com a soja toda retirada no campo, assim como as primeiras
safras do feijão e do milho, mais de 3 milhões de toneladas de grãos foram produzidos
nos 18 municípios da região dos Campos Gerais abrangidos pelo núcleo regional
do Departamento de Economia Rural (Deral) em Ponta Grossa. Com recorde
histórico de produtividade na soja e do milho, a produção total na região
ultrapassará os 3,5 milhões de toneladas, maior valor da história, quando a
conclusão da segunda safra de milho e feijão. Como a alta produtividade também
ocorre em todo o estado e no país, evidencia um gargalo no setor agrícola: o
deficitário sistema de armazenamento dos grãos.
A estimativa para esta safra 2016/2017 no Paraná, somando a
safra de inverno, é de 42 milhões de toneladas. A capacidade estática de
armazenamento do Estado, cadastradas, segundo a Companhia Nacional de
Armazenamento (Conab), é de 29,6 milhões de toneladas. Déficit de superior a 12
milhões de toneladas que é potencializado quando levado em conta o estudo da
FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), que diz
ser ideal a disponibilidade de armazenamento para o equivalente a 120% da
população. O armazenamento ocorre quando as cotações dos grãos estão baixas, e
os produtores esperam o melhor momento para vender e obter melhor retorno.
Na região dos Campos Gerais a situação não é tão grave, como
explica Gustavo Ribas Netto, presidente do núcleo Sindical Rural dos Campos
Gerais e do Sindicato Rural de Ponta Grossa. Porém, ele ainda considera
um pouco deficitária. “Nós chegamos a ter, nos Campos Gerais, o tempo de descarga
de caminhão de até 24 horas, e isso é um indicativo que a capacidade estática
de armazenagem não está de acordo com o volume que entra e consegue processar a
tempo. É um déficit, em que acaba vendendo determinado produto e não tem onde
armazenar, gerando problemas nas propriedades, por levar para terceiros
armazenar”, informa.
Ele diz que a região tem situação um pouco melhor que a
média estadual, mas atribui a alguns fatores a falta de investimentos, por
parte dos próprios produtores, em armazenagem. “Temos muitos problemas de
licenciamento e a armazenagem nas propriedades não alavancou como deveria, em
vias de regra, pela dificuldade ao acesso de crédito e investimento”, informa.
Segundo ele, isso tiraria caminhões das estradas e diminuiria o tempo de
descarga.
Cenário político minimiza problemas
De acordo com Gustavo Ribas Netto, o problema com a
armazenagem deve ser amenizado, aos poucos, nos próximos dias. O motivo é a
delação da JBS, que impactou diretamente na bolsa e na desvalorização do real
frente ao Dólar. Com a moeda americana mais cara, o preço da soja sobe. “Com as
questões políticas que apresentaram nesta quarta e quinta-feira, a soja deu um
pulo no preço, em função do dólar, então deve alavancar as vendas. Quem esteve
segurando ao máximo a venda pode se aproveitar dessa reação”, explica.
Investimentos em Ponta Grossa
Há o projeto do Governo do Estado do Paraná para a
construção de um Centro Logístico Intermodal em Ponta Grossa. Ele faz parte de
um pacote de investimentos em logística cujo financiamento está sendo negociado
junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que prevê um
aporte de R$ 1,6 bilhão que contempla diversos setores. O projeto em Ponta
Grossa seria voltado pensando no armazenamento de grãos.
Para este ano, o Governo Federal fez um investimento na
unidade da Conab em Ponta Grossa para voltar a receber soja e milho para
armazenamento. Foram R$ 390 mil investidos para a implantação do novo sistema
de termometria, equipamento que faz a medição periódica da temperatura da massa
de grãos. Sem esse sistema, os silos estavam sem receber esses grãos há
alguns anos. Com o sistema, a Unidade de Ponta Grossa passou a operar com
aproveitamento da sua capacidade total, que é de 420 mil toneladas.